Refletindo a Tolerância para a construção de uma democracia
O conceito de tolerância, como surgiu o valor ético da tolerância, encontro sobre tolerância na américa latina,...O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
"O egoísmo não consiste em vivermos conforme os nossos desejos, mas sim em exigirmos que os outros vivam da forma que nós gostaríamos. O altruísmo consiste em deixarmos todo o mundo viver do jeito que bem quiser”.
Oscar Wilde.
Antes de qualquer coisa precisamos ponderar que quanto a tolerância é necessário admitir que “tolerar” é primeiramente reconhecer a liberdade de “existir” do “outro”, desse “outro” ser diferente na maneira de agir, pensar, crer, amar, se relacionar, enfim a liberdade incondicional de “ser”.
Num primeiro momento, o conceito de tolerância nos remete a uma relação vertical entre os indivíduos, e, portanto, antiética, uma vez que pressupõe uma situação de desigualdade, ou seja, alguém se coloca como modelo a ser seguido, pois se julga mais civilizado, educado, normal, de uma cultura superior dentre outros atributos, e toma uma atitude de “benevolência” em relação ao “outro”, julgado inferior, anormal, selvagem, incivilizado. Este foi o sentido de origem do termo tolerância durante a modernidade européia (idade moderna), olhar do ponto de vista do vencedor. Entender a construção histórica dos sentidos deste conceito para assim contrapormos a um outro do ponto de vista do vencido, do oprimido é algo que precisa ser refletido.
Durante o período da idade moderna, o sentido mais relevante do conceito de tolerância pode ser reconstruído articulando duas esferas que se interpenetram: A religiosa e a política. O valor ético de tolerância surgiu da tensão entre identidade e diversidade religiosa, a tolerância à diversidade de posições religiosas não chegou a ultrapassar, no entanto os limites da identidade do próprio cristianismo como a única religião verdadeira.
Na esfera política o termo tolerância no ideário burguês também revelou uma forte influência do princípio de identidade, muito embora tenham tido o discurso da diversidade nos chamados valores universais iluministas, como os direitos fundamentais do homem; na realidade não levaram em conta a diversidade étnica, racial e cultural de toda a humanidade.
Os intelectuais da América latina na última década do século XX, contribuíram decisivamente para uma nova concepção de tolerância em relação àquelas construídas na idade moderna européia, trataram de dar a tolerância um sentido concebido a partir das culturas dos povos latino-americanos e caribenhos, cientes e conscientes da exploração e da marginalização sofridas nos últimos 500 anos de sua história, e também da riqueza de sua diversidade cultural, e assim comprometeram o conceito de tolerância com o respeito a diversidade explicitada no mundo contemporâneo e ao mesmo tempo, conscientes do direito fundamental de cada povo à sua identidade, livre de formas de dominação econômica e ideológica que os excluía de uma vida material e cultural digna.
A partir de um encontro sobre tolerância na América latina e no caribe realizado na década de 1990 na cidade do Rio de Janeiro o conceito de tolerância passou a ter um tratamento novo, no que concerne ao contexto histórico em que foi trabalhado:um mundo movido contraditoriamente por forças homogeneizadoras e fragmentadoras. Contudo é necessário lembrarmos que o tratamento político do conceito de tolerância já havia sido iniciado nos anos de 1970 pelos críticos da democracia liberal norte-americana, como Marcuse.
A fala incisiva de Paulo Freire neste encontro realizado no Rio de Janeiro demonstrou a tendência ideológica deste conceito: “ Eu me bato muito pela tolerância, que para mim é ma virtude...revolucionária até...é esta possibilidade de conviver com o diferente para poder brigar como antagonista...o antagonista é diferente também,mas um diferente, diferente”.
A possibilidade da construção de uma cultura de tolerância implica na satisfação das necessidades fundamentais das grandes maiorias excluídas do bem estar material , cultural e espiritual. A fome, a pobreza, a marginalização, são resultados de situações de profunda intolerância e focos de novas atitudes de intolerância e violência. A tolerância não pode ocorrer em relacionamentos marcados pela desigualdade, onde ocorrer a dominação e a opressão entre indivíduos ou grupos sociais.
O ponto crucial da tolerância está na igualdade social, respeitar as diversidades culturais, sexuais, étnicas, não pode significar aceitar as desigualdades socioeconômicas. A tolerância deve ser uma ação solidária na superação dessas desigualdades, deve ser o reconhecimento das diversidades dos vários extratos sociais contrapondo-se a hegemonia de uma cultura dominante que oprimi e marginaliza as outras classes e grupos sociais.
Os limites da tolerância residem em primeiro lugar na não aceitação da intolerância, nem das relações de exploração entre classes e grupos sociais desfavorecidos, sem limites a tolerância seria a própria negação. O contrário da igualdade não é diferença, mas sim a desigualdade que é socialmente construída, somente a aceitação da diferença pelo princípio da tolerância não é o suficiente para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna e éclaro verdadeiramente democrática. A solidariedade é a virtude necessária para o enfrentamento das diferenças brutais e injustas, da desigualdade.Os preconceitos, a intolerância, dentre outras atrocidades podem ser combatidos não somente pela informação, mas também através da construção e do estabelecimento de valores como a tolerância, a ética, a honestidade, o respeito e o exercício real da cidadania.
Publicado por: Bianca Wild
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